Vaticano reconhece milagre de Irmã Dulce

28/10/2010 12:29

 

Vaticano reconhece milagre de Irmã Dulce
 
 
27/10/2010
ASCOM – Obras Sociais Irmã Dulce A+ a- Imprimir Adicione aos Favoritos RSS Envie para um amigo

A Congregação para a Causa dos Santos do Vaticano reconheceu, através de voto favorável e unânime de seu colégio de cardeais e bispos, a autenticidade de um milagre atribuído à Irmã Dulce, cumprindo, dessa forma, a última etapa do processo de beatificação da religiosa. O anúncio foi feito na manhã do dia 27 de outubro pelo Arcebispo Primaz do Brasil, Dom Geraldo Majella Agnelo, em coletiva realizada na sede das Obras Sociais Irmã Dulce, em Salvador.

De acordo com o cardeal, antes do Natal o Papa Bento XVI assinará o decreto oficializando a concessão do título de Beata ou Bem-aventurada à freira baiana. Com o reconhecimento final do Papa, Irmã Dulce passará a se chamar “Bem-aventurada Dulce dos Pobres”.

Um dia após o decreto papal, o processo de canonização da bem-aventurada já pode ser iniciado. Já a cerimônia de beatificação do Anjo Bom do Brasil está programada para o primeiro semestre de 2011, no Parque de Exposições.

O milagre validado pelo Vaticano passou por três etapas de avaliação: uma reunião com peritos médicos (que deram o aval científico), com teólogos, e, finalmente, a aprovação final do colégio cardinalício, tendo sua autenticidade reconhecida de forma unânime em todos os estágios.

Uma graça só é considerada milagre após atender a quatro pontos básicos: a instantaneidade, que assegura que a graça foi alcançada logo após o apelo; a perfeição, que garante o atendimento completo do pedido; a durabilidade e permanência do benefício e seu caráter preternatural (não explicado pela ciência).

- O milagre apresentado no processo foi examinado meticulosamente por especialistas do Brasil e de Roma. Um reconhecimento que vem mais uma vez confirmar a vida de virtudes de Irmã Dulce – trajetória essa baseada na total dedicação aos pobres e doentes, afirmou Dom Geraldo.

A graça

Segundo o médico Sandro Barral, um dos peritos que participou do processo de análise do milagre, a graça validada ocorreu em 2001, em uma cidade do interior do Nordeste.

- Foi um caso de pós-parto, onde a paciente apresentava um quadro de forte hemorragia não controlável. Em um período de 18 horas, por exemplo, ela chegou a passar por três cirurgias, mas o sangramento não cessava. Contudo, sem nenhuma intervenção médica, a hemorragia subitamente parou e a paciente passou a ter uma impressionante recuperação, explica.

Conforme relatos da época, o fim do sangramento ocorreu no mesmo instante em que um grupo de orações pedia a intercessão de Irmã Dulce em favor da parturiente.

- A corrente de orações foi proposta por um sacerdote, contemporâneo de Irmã Dulce, que chegou, inclusive, a enviar para a família dela um pedaço de tecido do hábito (relíquia) que pertenceu à religiosa, comenta o assessor de Memória e Cultura das Obras, Osvaldo Gouveia.

Ainda segundo dados do processo, ao ser chamado ao hospital onde a parturiente estava, o médico que a atendia achou na ocasião que estava indo assinar seu atestado de óbito, em virtude da gravidade da situação, mas ao chegar ao local encontrou a mãe já recuperada do sangramento e com o bebê em seus braços. A identidade da paciente e o local do milagre só poderão ser revelados um mês antes da cerimônia de beatificação de Irmã Dulce.

Histórico

A causa de beatificação de Irmã Dulce foi iniciada em janeiro de 2000. A validação jurídica do virtual milagre foi emitida pela Santa Sé em junho de 2003. Em abril de 2009, o Papa Bento XVI reconheceu as virtudes heróicas da Serva de Deus Dulce Lopes Pontes, autorizando oficialmente a concessão do título de Venerável à freira baiana. O título é o reconhecimento de que Irmã Dulce viveu, em grau heróico, as virtudes cristãs da fé, esperança e caridade.

O voto favorável e unânime da Congregação para a Causa dos Santos para o título de Venerável foi concedido em janeiro de 2009 pelo colégio de cardeais, bispos e teólogos após a análise da Positio – documento canônico misto de relato biográfico e das virtudes e resumo dos testemunhos do processo. Os teólogos que estudaram a vida e as obras da freira a definiram como a “Madre Teresa do Brasil”, pelas semelhanças do seu testemunho cristão com a Beata de Calcutá, sendo “um conforto para os pobres e um exame de consciência para os ricos”.

Logo após sua morte, em 1992, Irmã Dulce foi sepultada na Igreja da Conceição da Praia. Em 2000, com o início do processo de beatificação, seus restos mortais foram transferidos para a Capela do Convento Santo Antônio (na sede das Obras Sociais Irmã Dulce). No dia 9 de junho de 2010 foi realizada a exumação e transferência das relíquias (termo utilizado para designar o corpo ou parte do corpo dos beatos ou santos) da Venerável Dulce para sua capela definitiva, localizada na Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. A Capela das Relíquias foi construída na própria Igreja da Imaculada Conceição, erguida no local do antigo Cine Roma e do Círculo Operário da Bahia, construídos pela freira na década de 40.

O que significa a beatificação

A concessão do título de Beato ou Bem-aventurado é o reconhecimento de que o recém nomeado viveu e praticou as virtudes cristãs em grau heróico, sendo sua trajetória um modelo de virtude para a vida cristã. Com a concessão, o Papa passa a permitir ao recém nomeado uma devoção pública limitada, com a inclusão de seu nome no calendário das festas litúrgicas da Igreja. A festa em devoção ao Beato acontece ordinariamente no aniversário da sua morte, ocasião considerada como um nascimento para a vida eterna.

A beatificação é mais uma etapa no processo para a canonização. Para a canonização é necessária a aprovação de um milagre adicional atribuído à intercessão do Beato. No momento da canonização, o Santo Padre, em virtude da sua infalibilidade, declara que o Beato está entre os santos do céu e inscreve o nome da pessoa na lista oficial (cânon) dos Santos da Igreja. É nesse momento que a devoção pública ao Santo recém declarado estende-se à Igreja em todo o mundo.

Irmã Dulce, Anjo Bom do Brasil

Em 26 de maio de 1914 nascia, na cidade de Salvador, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. O interesse pela vida religiosa começou a se manifestar já no início da adolescência, quando Maria Rita, aos 13 anos de idade, já atendia doentes no portão de sua casa, no bairro de Nazaré. Em 1933, a jovem ingressa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no Convento de Nossa Senhora do Carmo, em São Cristóvão (Sergipe). No mesmo ano, recebe o hábito e adota, em homenagem à sua mãe, o nome de Irmã Dulce.

Em 1935, Irmã Dulce inicia um trabalho assistencial nas comunidades carentes, sobretudo nos Alagados, conjunto de palafitas que se consolidara na parte interna do bairro de Itapagipe. Nessa mesma época, começa a atender também os operários que eram numerosos naquele bairro, criando um posto médico e fundando, em 1936, a União Operária São Francisco – primeira organização operária católica do estado, que depois deu origem ao Círculo Operário da Bahia.

Em 1949, Irmã Dulce ocupa um galinheiro ao lado do convento inaugurado em 1947, após autorização da sua superiora, com os primeiros 70 doentes. A iniciativa deu origem à tradição propagada há décadas pelo povo baiano de que a Serva de Deus construiu o maior hospital da Bahia a partir de um simples galinheiro. Já em 1959, é instalada oficialmente a Associação Obras Sociais Irmã Dulce e no ano seguinte é inaugurado o Albergue Santo Antônio. Irmã Dulce morreu no dia 13 de março de 1992, aos 77 anos, no Convento Santo Antônio, situado no bairro de Roma.

Perfil Obras Sociais Irmã Dulce - OSID

Instituição que abriga o maior complexo de atendimento 100% gratuito em saúde do Brasil, as Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) são responsáveis pelo maior volume de atendimentos em toda a estrutura do setor na Bahia. A OSID responde por 49% da assistência em saúde da capital baiana, Salvador, (percentual que inclui os leitos do SUS e a assistência ambulatorial, de urgência e emergência). Entidade filantrópica de fins não-lucrativos fundada em 26 de maio 1959 por Irmã Dulce, a OSID presta assistência à população de baixa renda nas áreas de Saúde, Assistência Social e Educação, dedicando-se ainda à Pesquisa Científica, Ensino Médico e preservação e difusão da história de Irmã Dulce, além da gestão de unidades e hospitais do estado e município de Salvador.

Em 2009, a OSID superou a marca dos 5 milhões de atendimentos ambulatoriais, realizando 5.111.232 procedimentos a usuários do SUS, idosos, portadores de deficiências e de deformidades craniofaciais, pacientes sociais e crianças e adolescentes em situação de risco social. O número dá a dimensão do que, 18 anos após o falecimento de Irmã Dulce, a instituição representa para a população da Bahia, que hoje é estimada pelo IBGE em 15 milhões de habitantes. O perfil sócio-econômico desses beneficiários – desenhado pela Pesquisa de Satisfação do Cliente da área de saúde – revela uma renda familiar de, no máximo, dois salários mínimos para cerca de 85,4% dos atendidos, 27% destes ganhando menos de um salário. Quase 70% são analfabetos (9,4%), alfabetizados (18,9%) ou têm apenas o primeiro completo ou incompleto (41,4%). Na área educacional, o quadro é ainda mais precário: apenas 7,66% das famílias possuem renda per capita mensal superior a R$ 151,00.

As ações cobrem todo o espectro da assistência à saúde e incluem assistência básica, exames laboratoriais e de bio imagem, urgência e emergência, internação, cirurgias de alta complexidade, reabilitação e pesquisa de ponta. As Obras são ainda referência na área de Ensino Médico, com residências em 15 especialidades. Os núcleos de Saúde do Complexo Roma contam com 1.009 leitos. O núcleo de Educação Fundamental e Profissionalizante, Centro Educacional Santo Antônio (CESA), oferece formação em ensino fundamental e profissionalizante a mais de 800 alunos.

Trabalham nas Obras mais de quatro mil profissionais. Cerca de 90% dos recursos da organização são provenientes da prestação de serviços ao Sistema Único de Saúde (SUS) e/ ou venda de produtos. O restante se divide entre doações (6%) e convênios com organismos estatais. Fiel à missão herdada de Irmã Dulce, “Amar e Servir”, a instituição acumula prêmios e certificações como a ISO 9001:2000, Bem Eficiente, Top Social e Rainha Sofia. Atua ainda no fomento à educação, cidadania, inserção social, geração de emprego e renda e promoção de políticas sociais inclusivas através da transferência de tecnologia social e de saúde. As Obras Sociais Irmã Dulce têm sua sede instalada no Complexo Roma, na Cidade Baixa, em Salvador.