Dom Alberto Taveira fala sobre o direito e o dever do voto
Dom Alberto Taveira fala sobre o direito e o dever do voto
Nossa fé não se restringe apenas a esfera espiritual, mas compromete todo o nosso jeito de viver exigindo de nós uma postura condizente com o Evangelho. Por isso, num momento decisivo para a nossa nação, como o das eleições, precisamos estar atentos e conscientes do nosso papel.
Leia a carta escrita por Dom Alberto Taveira, assessor eclesiástico da RCC e bispo de Belém/PA, com importantes orientações.
Ao Povo de Deus na Arquidiocese de Belém
Caríssimo irmão,
Caríssima irmã,
Vivemos um tempo especial da graça de Deus, quando a sociedade brasileira espera a participação dos cristãos católicos nas eleições que se aproximam. É tempo de exercitar o patriotismo e o civismo com a luz que nos vem do Evangelho de Cristo. É dos primeiros tempos da vida da Igreja uma carta na qual se diz: “os cristãos não se distinguem dos demais homens, nem pela terra, nem pela língua, nem pelos costumes. Nem habitam cidades peculiares, nem usam alguma língua distinta, nem vivem uma vida de natureza especial. Nem uma doutrina desta natureza deve a sua descoberta à invenção de homens de espírito irrequieto, nem defendem uma doutrina humana. Habitando em lugares diversos, conforme coube a cada um, e seguindo os usos e costumes das regiões, no vestuário, na alimentação e no resto da vida, revelam uma maravilhosa e forma de comportamento político-social. Habitam pátrias próprias, mas como peregrinos, participam de tudo como cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros. Toda a terra estrangeira é para eles uma pátria e toda a pátria uma terra estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam à violência os recém-nascidos. Servem-se da mesma mesa, mas não do mesmo leito. Estão na carne, mas não vivem segundo a carne. Moram na terra e são conduzidos pelo céu” (Carta a Diogneto). Aceitamos juntos o desafio e queremos aprender de novo a viver como cristãos no tempo que nos é dado pela providência de Deus.
Amar a Deus é escolhê-lo em primeiro lugar. Deus e só Ele merece nosso voto incondicional. Cumprir sua lei, viver sua palavra e nele buscar as orientações para todas as nossas decisões é o primeiro passo a ser dado para nossa presença na política. Tudo o que for contra os mandamentos da lei de Deus seja afastado de nossos pensamentos e de nossas ações. Ao verificar a lista dos candidatos que se apresentam, temos o direito e o dever de conferir se suas propostas correspondem ao que Deus pensa!
O segundo mandamento, que Jesus disse ser semelhante ao primeiro, é o do amor ao próximo como a nós mesmos. A política existe para a busca do bem de todos, sem excluir ninguém. E Deus olha primeiro para os pequeninos e os mais sofredores. Vale a pena escolher pessoas para os cargos eletivos que cuidem ou estejam dispostas a cuidar de todos, especialmente os que passam por maiores dificuldades. Queremos saber das pessoas que se apresentam às eleições se elas querem e podem contribuir para que no mundo cresça o amor a todas as pessoas, vencendo as exclusões que deixam tantos irmãos e irmãs à margem da vida social.
Jesus nos ofereceu ainda o novo mandamento, “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15, 12). Para nós cristãos é importante que a política busque a unidade e o amor mútuo. Vemos o quanto fazem mal as acusações dos diversos grupos e partidos uns contra os outros. Existem pessoas que buscam o que é positivo, que querem mais criar pontes de amizade e respeito do que construir muros de separação? Certamente poderão contar mais com nossa confiança e nosso voto.
Para ajudar-nos a viver os mandamentos do amor a Deus e ao próximo, a Igreja tem seu ensinamento social, do qual podemos tirar algumas orientações bem práticas para o período eleitoral:
1. Votar é um exercício importante de cidadania. Vote nas próximas eleições e procure votar bem.
2. Verifique se os candidatos a qualquer cargo político valorizam a vida, a família, a honestidade, a orientação moral da Igreja. Vote em pessoas que respeitem a liberdade de consciência, as convicções religiosas dos cidadãos, suas práticas e símbolos religiosos e a livre manifestação de sua fé.
3. Do mesmo modo que outros grupos na sociedade querem escolher pessoas que compartilham suas idéias, também nós cristãos temos o direito e o dever de eleger quem vive de acordo com nossos ideais.
4. Voto não é mercadoria. Qualquer “preço” pelo voto, como dinheiro, promessas de cargos no futuro, material de construção, combustível e daí por diante, significa um sinal de alerta, pois quem faz tais promessas não merece nosso apoio. Isto se chama corrupção!
5. Quem se apresenta para um cargo político deve ser digna de confiança. Verifique se a pessoa tem “ficha limpa”, pois é fácil acostumar-se com práticas criminosas e continuar na mesma estrada!
6. A Arquidiocese de Belém não deseja impor nomes de candidatos a qualquer um dos fiéis. Mesmo que existam grupos religiosos ou não que pensem em usar este método, nós preferimos respeitar a liberdade de consciência e a decisão de cada pessoa.
Acompanho com minhas orações e com minha bênção as decisões de cada cristão católico de nossa Arquidiocese, com otimismo e respeito a todos.
Belém/PA, 14 de setembro de 2010
Festa da Exaltação da Santa Cruz.
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará